-Quem és tu?
-Não sei. Mas sei quem fui.
-Isso não me interessa. Quero saber quem és tu, agora.
-Eu não te posso ajudar então.
-Diz-me lá quem és...
-Mas eu não consigo lembrar-me.
-Então mas... Tu lembras-te de quem foste e não sabes quem és?
-Sim... Ó, não irias perceber.
-Podes sempre tentar. Assim nunca saberás se vou ou não perceber.
-Eu sei que fui feliz, livre, contente, divertida, sorridente. Agora apenas sei que sou a Mónica.
-Então já sabes que és a Mónica.
-Sim, eu sei que sou a Mónica, mas não sei se isso basta.
-Claro que basta!
-Mas se ser a Mónica não for suficiente? ou se for demais?
-Calma, pensas demais nas coisas.
-Eu sei que penso, mas não consigo evitar. E cada vez mais acho que ser a Mónica é pouco.
-É pouco? Mas é pouco porquê?
-Não sei. Sinto-me pequenina, insignificante, desnecessaria.
-Ó não sejas parva. As pessoas não tem de precisar sempre de ti.
-Eu sei, não quero que precisem sempre. Mas tambem agora, acho que nunca precisaram.
-Ai rapariga, tas a ser parva. Não recorreram a ti?
-Sim... Mas...
-Então foi porque precisaram.
-E quando for eu a precisar?
-A precisar de quem? da Mónica?
-Sim, quando for eu a precisar de mim? E se eu não me encontrar?
-Procuras mais um pouco.
-E se já tiver procurado em todo o lado?
-Olhas para trás.
-Porquê? Eu vou lá estar?
-Isso não sei, mas pode ser que descubras onde te perdeste.
-E se me tiver perdido muito longe?
-Atas um corde à cintura e voltas para trás para te ires buscar.
-E se eu nao quiser vir? Se tiver medo?
-Puxa por ti. Tens de voltar. Tu precisas de ti. Não te vais deixar sozinha, ou vais?
-Acho que já deixei.
-Estas a ser parva, não abandonas ninguem e agora vais abandonar-te a ti?
-É. Acho que sim. Acho que sou cobarde comigo.
-Deixa de ser parva. Olha lá. Até nem estas muito longe.
-Mas como é que eu lá vou? Nem tenho coragem de me olhar nos olhos.
-Vai. Respira fundo. Pegas na tua mão e trazes-te.
-Não vou conseguir.
-Acho que estas a olhar para ti. Estás à espera de quê para te ires buscar?
-Não sei. Acho que estou à espera de vir sozinha.
-Já vieste alguma vez?
-Não.
-Então vai-te buscar. Se não perdes-te mesmo.
-Mas e...
-Tenho de te dar um empurrão?
-Não. Eu vou lá, eu vou lá.
-Vai. Vai ser bom para ti. Não apareças cá sem ti.
-Sim. Eu vou buscar-me e voltamos as duas.
MM